Esperança

Para encerrarmos um ano desafiante como esse, sugiro que façamos uma reflexão sobre um atributo humano que muitas vezes nem notamos. É compreensível que estejamos confusos e até temerosos. Afinal de contas a desinformação está atingindo graus imensuráveis. O documentário The Social Dilemma na Netflix, mostra uma das formas como isso está acontecendo. Nós temos um GPS interno que raramente usamos: nosso Eu Superior. Este se comunica conosco através da intuição, sonhos, sensações corporais (frio na barriga, por exemplo) e sincronicidades. Toda informação que vem de fora é de segunda mão.

Mas devido a séculos de condicionamento social aprendemos a acreditar em meias-verdades e a desconfiar das verdades transmitidas para nós através da centelha divina que habita em cada um de nós. Nos Estados Unidos existe um ditado que diz que: “A hora mais escura da noite é exatamente antes do amanhecer.” Muitos acreditam que estamos vivenciando esse momento de escuridão. Repare, por exemplo, na mídia, 99% das mensagens têm conteúdo negativo. Esta tira proveito do fato que nós, seres humanos, normalmente pensamos negativamente.

Muitos estudos mostram que o ser humano tem entre 12.000 a 60.000 pensamentos por dia e que 80% ou mais são negativos. Uma das explicações é que nosso cérebro foi programado para detectar perigo. Nossos ancestrais viviam em constante vigilância (e acredito que ansiedade) para não se tornarem refeição de dinossauros. Hoje não precisamos nos preocupar com os dinossauros; temos bandidos, marginais, políticos corruptos e empresas inescrupulosas que tomaram o lugar dos dinossauros, além da mídia que tira vantagem do medo para nos manipular.

Por outro lado, estamos vivendo num momento de transição histórica. Assim como foi com a invenção da roda, com os primeiros instrumentos agrícolas e a revolução industrial. Nada é eterno, tudo muda. A única permanência na vida é a impermanência. Por isso, transições pessoais ou históricas podem causar muito medo, pois estamos lidando com o desconhecido. Momentos de transição podem vir acompanhados de muito medo, até desespero, mas também de esperança! Na verdade, nesse processo de transição vivemos um paradoxo entre o medo e a esperança. Isso é normal e até esperado. Cabe a cada um de nós escolher qual lado iremos alimentar mais em nossa mente: o medo ou a esperança!

Temos a opção de usarmos nosso tempo para meditação, recolhimento e contemplação ou ficar assistindo noticiários e/ou checando uma internet desinformativa e polarizadora. A energia da manifestação segue onde colocamos nossa atenção. Por exemplo, quanto mais você fala de alguém que você não gosta, mais poder você dá para essa pessoa. Isso acontece a nível pessoal, social e político. É por isso que normalmente um partido político é elegido por quem não gosta desse partido, pois quanto mais se fala e se posta comentários negativos contra esse partido, mais poder ele tem.

O subconsciente não difere certo de errado, bom de ruim, verdadeiro de falso. Este segue o fluxo de sua atenção! Por isso meditação é tão importante, pois vamos aprender a separar as vozes que nos rodeiam daquela que vem de nós mesmos, da nossa parte divina, do Eu Superior! Esse processo é fácil? Não, mas é útil e necessário se quisermos ter uma vida que faça sentido. Não precisa ser nada dramático. Começando com cinco minutos por dia já ajuda. Com o tempo você mesmo vai querer estender esse tempo.

Nós descartamos nosso poder quando nos deixamos levar pelas informações externas. Viramos robôs sendo programados pelas mensagens que atingem nosso subconsciente. O subconsciente não tem filtro, este reage às informações literalmente, sem nenhuma ponderação. Além disso, o subconsciente é responsável por 90% dos nossos comportamentos. E ainda achamos que somos donos da nossa verdade e vontade. Neurocientistas e profissionais da área de marketing sabem que isso não é verdade. Mas mesmo assim essa ilusão é alimentada, pois é assim que gastamos muito dinheiro comprando coisas desnecessárias e fazendo dívidas.

De acordo com Wikipédia, “esperança é uma crença emocional na possibilidade de resultados positivos relacionados com eventos e circunstâncias da vida pessoal.” Não é  coincidência que muitas pessoas estão deprimidas e ansiosas, pois somos bombardeados a cada minuto com mensagens negativas. Mas somos livres para escolher onde focamos nossa atenção e nossos pensamentos. Quando eu estava estudando terapia para viciados (addiction counseling) fiz uma pesquisa literária e fiquei encantada com os estudos realizados pela Universidade de Northern British Columbia no Canadá. Esses estudos vão além do comportamento humano, que é somente a ponta do iceberg. Fundamentados numa psicologia humanista, os cientistas estudaram os atributos que ajudam casos desesperançosos com viciados. Eles estudaram a Esperança! O que eles descobriram podemos aplicar em qualquer área de nossas vidas, a qualquer momento e em qualquer lugar.

Antes de entrar nos detalhes dessa pesquisa, gostaria de mencionar que em seu livro, O Poder do Hábito, Charles Duhigg diz que para se estabelecer um hábito  nós precisamos de uma deixa, uma rotina e uma recompensa. O autor diz que nunca eliminamos um hábito, apenas o substituímos, o que significa que sempre procuraremos uma recompensa depois que percebermos a deixa. Então o segredo para mudarmos um hábito (de pensar negativo, de remoer o passado, assistir programas baseados no medo, etc.) é mudarmos nossa rotina. Mas isso não basta, precisamos de apoio de um grupo de pessoas que estão indo na mesma direção que nós. Se você não tem ninguém indo nessa direção, você pode começar seu próprio grupo da esperança, que pode ser online ou presencial, dependendo da situação. Você vai ver como existem pessoas que estão precisando de suporte assim como você e não sabem por onde começar.

O estudo canadense sobre a esperança, mostra que a mesma pode ser construída e desenvolvida da seguinte forma: estabelecendo pequenas metas que sejam realistas e atingíveis em nosso cotidiano. Não é momento para obras faraônicas. Dependendo do seu grau de depressão, desesperança ou ansiedade, ter a meta de arrumar a própria cama de manhã já faz diferença. Nosso quarto, casa ou escritório é um reflexo de como estamos lidando com nosso mundo interno. Arrumar a cama pode ser um sinal de esperança, pois significa que você está querendo arrumar sua vida.

E um bom começo é arrumando sua mente; ou seja, seus pensamentos. O estudo que mencionei anteriormente sobre pensamentos negativos, mostra que 95% dos nossos pensamentos negativos são repetições de pensamentos que tivemos no dia anterior. Na verdade, estes pensamentos são ruminações e preocupações. Preocupação é meditação no negativo. Se podemos meditar no negativo, podemos também escolher meditar no positivo. Por isso, não tente lutar contra seus pensamentos negativos, pois você ficará louca fazendo isso, já que o cérebro humano está programado para detectar perigo (real ou não). Deixe esses pensamentos virem e imediatamente reponha-os por pensamentos positivos relacionados com o mesmo assunto.

Como sabemos que as deixas sempre estarão lá (assistir televisão depois do jantar, por exemplo), que tal substituí-las por algo mais saudável? Assistir uma comédia ao invés do noticiário? Que tal ler um livro inspirador? Ou meditar com mais alguém? Também podemos reduzir o tempo que passamos no celular, computador ou redes sociais e fazer uma caminhada, aprender a fazer artesanato ou yoga no YouTube, aprender a fazer pratos mais saudáveis, inventar receitas de aromaterapia, etc. Somos muito criativos quando queremos!

Toda vez que escolhemos fazer uma atividade que vai nos fazer sentir bem, não importa o quão pequena (dar uma volta no quarteirão andando ou tomar quinze minutos de sol), estamos construindo e aumentado nossa esperança. Assim, percebemos que temos opções para construirmos uma vida que faça sentido. Podemos também espalhar essa esperança para amigos, ajudando-os a construírem sua rotina de esperança. Afinal de contas nos sentimos melhores quando as pessoas que estão ao nosso redor também estão bem. Felicidade é um efeito colateral positivo da esperança e esta é super contagiante!

REFERÊNCIAS

Duhigg, C., The Power Of Habit – Why We Do, What We Do In Life and Business, 2012

O’Neill, L., Sherry, J., Hope-Focused Interventions in Substance Abuse Counseling, 2011

Orloff, J., The Empath’s Survival Guide – Life Strategies for Sensitive People, 2017

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